PENTATEUCO E HIPÓTESE DOCUMENTÁRIA

Rev. Ewerton Barcelos Tokashiki

1. Título

Geralmente esta seção do AT é comumente conhecido como Toráh (Lei). O substantivo toráh se deriva da raiz yarah, “lançar” ou “projetar”, e significa orientação, lei, instrução. Edward J. Young observa que

como designação dos cinco primeiros livros da Bíblia, esse termo é empregado em sentido mais restrito para destacar o elemento legal que forma tão grande porção desses livros. Esse emprego do termo, porém, não exclui as seções históricas ou de narrativa; antes, inclui-as, visto que formam o segundo plano ou arcabouço apropriado para a legislação.[1]



A palavra “Pentateuco” é uma derivação de duas palavras gregas “pente” (cinco) e “teuchos” (volume). Seu primeiro uso se encontra, talvez, nos escritos de Orígenes, a respeito de Jo 4:25, “do Pentateuco de Moisés”.



No AT o Pentateuco é chamado de:

1. Lei: Js 8:34; Ed 10:3; Ne 8:2,7,14; 10:34,36; 12:44; 13:3; 2 Cr 14:4; 31:21; 33:8.

2. Livro da Lei: s 1:8; 8:34; 2 Rs 22:8; Ne 8:3.

3. Livro da Lei de Moisés: Js 8:31; 23:6; 2 Rs 14:6; Ne 8:1.

4. Livro de Moisés: Ed 6:18; Ne 13:1; 2 Cr 25:4; 35:12.

5. Livro do Senhor: Ed 7:10; 1 Cr 16:40; 2 Cr 31:3; 35:26.

6. Lei de Deus: Js 24:26; Ne 8:18.

7. Livro da Lei de Deus: Js 24:26; Ne 8:18.

8. Livro da Lei do Senhor: 2 Cr 17:9; 34:14.

9. Livro da Lei do Senhor seu Deus: Ne 9:3.

10. Livro de Moisés, servo de Deus: Dn 9:11, 13; Ml 4:4.



No NT o Pentateuco é chamado de:

1. Livro da Lei: Gl 3:10.

2. Livro de Moisés: Mc 12:26.

3. Lei: Mt 12:5; Lc 16:16; Jo 7:19.

4. Lei de Moisés: Lc 2:22; Jo 7:23.

5. Lei do Senhor: Lc 2:23-24.





2. Autoria do Pentateuco

O Pentateuco é uma obra contínua, completa, produzida por um só autor inspirado. É possível que se tenha feito o uso de fontes orais e escritas sob orientação divina.



2.1. Negação da Autoria Mosaica

2.1.1.Origem do Desenvolvimento da Teoria Documentária

Alguns movimentos como o Deísmo e Racionalismo forneceram o cenário, e contribuíram para o surgimento da Teoria Documentária. Estas duas correntes de pensamento, embora diferentes, concordam numa coisa: a negação de uma relação sobrenatural de Deus com o homem.

Negando a premissa sobrenatural, não se pode sustentar a doutrina da inspiração, profecias, a providência divina, etc. A Bíblia torna-se um livro meramente humano. Foi quando começaram a questionar a autoria mosaica, e a sua data de escrita, como também a veracidade de seu conteúdo.

Thomas Hobbes em sua obra Leviathan (1651) afirmou que o Pentateuco havia sido editado por Esdras a partir de fontes antigas.

Benedicto Spinoza declarou em Tractatus Theologico-Politicus (1670) que Esdras havia editado o Pentateuco com interpolação de Deuteronômio, questionando a autoria mosaica.



2.1.2.Teoria Documentária Primitiva

Jean Astruc, médico francês, foi o primeiro a dar expressão literária a essa teoria (em 1753). Limitou suas dúvidas apenas a autoria de Gn 1. Sua tese era que Moisés havia compilado o livro de Gênesis a partir de duas memórias (memoires), e outros documentos menores. Astruc identificou 2 fontes principais: Fonte A, com o uso da palavra Elohim, e fonte B, o uso da palavra Yahweh. Todavia, aceita Moisés como autor do livro todo. Alegava ter encontrado em Gênesis mais de dez fontes e outras interpolações textuais!

Johann G. Eichorn em sua Einleitung (1780-1783), expandiu as idéias de Astruc a todo o Pentateuco e não apenas a Gênesis. Negou a autoria mosaica. Dividiu Gn e Êx 1-2 em fontes designadas J e E, e afirmou que estas foram editadas por um autor desconhecido.



2.1.3.Teoria Fragmentária

Alexander Geddes, padre católico escocês, investigou as “memoires” de Astruc. Em 1792-1800 desenvolveu a teoria fragmentária. Segundo a Teoria Fragmentária o Pentateuco consiste em fragmentos lendários, desconexos entre si e de muitos autores desconhecidos, mas possuindo apenas um redator. Foi o primeiro a sugerir a existência de um Hexateuco. Segundo Geddes o Pentateuco foi compilado por um redator desconhecido a partir de numerosos fragmentos que tiveram sua origem em círculos diferentes, um elohístico, e o outro javístico. A data da composição final do “Hexateuco” teria ocorrido em Jerusalém, durante o reinado de Salomão.

J. Vater (1802-1805) fez a divisão do Pentateuco em 39 fragmentos. A data da composição final do Pentateuco foi no exílio babilônico, sendo que nesta época adquiriu a forma que hoje conhecemos.

A.T. Hartmann foi o primeiro a dizer que a escrita era desconhecida no tempo de Moisés entre os israelitas (1831). Segundo ele, o Pentateuco era constituído de um grande número de pequenos documentos pós-mosaicos, a que foram feitas adições, de tempos em tempos, até se tornarem nos cinco livros. Considerava o Pentateuco como lenda e mito.



2.1.4.Teoria suplementar

Wilhelm M. L. De Wette (1780-1849) em 1805 escreveu um livro, acerca de Deuteronômio, dando este livro como pertencente ao tempo de Josias e escrito um pouco antes da sua reforma religiosa, em 621 a.C.

Heinrich Ewald (+1875) rejeitou a autoria mosaica. Segundo ele o Pentateuco é composto de muitos documentos, mas enfatizando o documento E como sendo básico.

Tuch foi quem deu expressão clássica à teoria. Deu ênfase a dois documentos básicos, o E e o J, tendo datado o E no tempo de Saul, e o J no tempo de Salomão.

Representa uma volta a Teoria Documentária primitiva. Segundo essa teoria, o documento básico, original era um só, o documento E (elohista), combinado com um suplemento principal que era o documento J (jeovísta) formavam a base para o Pentateuco. No decorrer dos séculos novas adições foram feitas a estes documentos, terminando na cristalização do atual conjunto de cinco livros. Todos estes críticos negaram a autoria mosaica do Pentateuco.



2.1.5.Teoria Documentária Modificada

Esta teoria defende que de três a quatro documentos principais e contínuos foram combinados por um redator.

Hermann Hupfeldt, em 1853, ensinou que, além do Deuteronômio, havia três documentos contínuos que eram J,E1 e E2, combinados por um único redator.

E. Riehm (1854) defendeu que os documentos contínuos eram quatro e não três. Foi o primeiro a apresentar um quarto documento principal, chamado D. A forma dos documentos seria E1, E2, J, D.



2.1.6.Teoria Documental em seu Estado Final

Segundo esta teoria, quatro ou cinco documentos principais, mais outros documentos secundários foram combinados por quatro redatores principais e mais outros redatores secundários.

Reuss (1850) acreditava em cinco documentos principais J, E1, E2, d, P. Foi o primeiro a sugerir o documento P como sendo documento básico e também como sendo o último deles. Atribuiu ao tempo de Esdras como data final da redação do Pentateuco.

Karl H. Graff, em 1865, afirmou a literatura de Êxodo, Levítico e Números, não pertencia ao período de Josias, mas ao cativeiro babilônico. Rejeitou o documento E1 como sendo um documento independente. Para ele o E1 é igual ao P, um documento procedente do período do reinado de Josias. Para Graff a ordem dos documentos seria P–histórico, E, J, D, P-legal.

Abraham Kuenen (1869-1870) desenvolveu a teoria de Graff e a difundiu, principalmente na Alemanha. Em sua obra “A Religião de Israel” (1869) argumentou que o P-histórico não poderia ser separado do documento P-legal. Sua teoria resultou em J, E, D, P.

Julius Wellhausen foi quem deu uma popular formulação literária à teoria, em sua obra Die Composition dês Hexateuchs, em 1876. Com ele a teoria adquiriu o nome de Graff-Kuenen-Wellhausen. Causou um grande impulso ao criticismo moderno.



2.1.7.Teoria Documentária no Século XX[2]

Herman Gunkel (1862-1932) e Hugo Gressmann (1877-1927) posicionaram-se contra as tendências do wellhausenismo clássico. Os grandes expoentes na crítica das fontes. Defendiam a necessidade de se descobrir o Sitz im Leben (contexto vital). Comparação com a mitologia antiga.

Otto Eissfeldt em sua Einleitung in das Alte Testament (1934) defendia a classificação da literatura do AT em vários gêneros e categorias. Tenta traçar o desenvolvimento (a influência pré-história literária) dos diferentes documentos. Propõem a existência de um documento L (fonte leiga). Não possui uma concepção adequada da revelação, considera a literatura do AT como de origem meramente humana.

R.H. Pfeiffer em Introduction to the Old Testament (1941) mostra erudição e apologia, basicamente anti-cristã. Ensinou a existência de um documento S (Sul ou Seir), mas obteve aceitação popular. Nega a revelação, milagres, etc., segundo Pfeiffer estas são cousas subjetivas, sem prova científica.

Gerhard Von Rad (1934) defendeu a existência de mais dois documentos Pa e Pb. Propôs a teoria do Hexateuco.

Aage Bentzen publicou em 1941 uma obra que esposa o método histórico-crítico que presta dedicada atenção ao estudo das supostas formas da literatura do AT.

Atualmente o liberalismo predomina nos estudos do AT em todo o mundo. Todavia, há vozes conservadoras que se fazem ouvir com vasta erudição. Temos em português algumas obras acadêmicas publicas sobre IAT:

1.Liberais: Negam a unidade e autoria mosaica

1.1. Klaus Homburg, Introdução ao AT, Ed. Sinodal, 1981

1.2. Aage Bentzen, Introdução ao AT, ASTE, 1968, 2 vols

1.3. E. Sellin & G. Fohrer, Introdução ao Antigo Testamento, Ed. Paulinas, 1978, 2 vols.

1.4. Werner H.Schmidt, Introdução ao AT, Ed. Sinodal.



2.Conservadores: confirmam a unidade e autoria mosaica

1.1. Edward J. Young, Introdução ao AT, Ed. Vida Nova, 1964

1.2. Clyde T. Francisco, Introdução do VT, JUERP, 1969

1.3. Gleason L. Archer, Merece Confiança o AT?, Ed. Vida Nova, 1991

1.4. Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o AT, Ed. Vida, 1996

1.5. W.S. Lasor, D.A. Hubbard & F.W. Bush, Introdução ao AT, Ed. Vida Nova, 1999 (conservador?)



É necessário fazermos uma breve observação a título de orientação. A “Introdução ao Antigo Testamento” de Lasor, Hubbard e Bush, recentemente editada (1999), pela Edições Vida Nova, deve ser estudada com ressalvas. Embora, seja indicado “para alunos, professores e estudiosos evangélicos conservadores”[3] e os três autores pertencessem ao renomado Seminário Teológico Fuller de seguimento conservador[4]. Esta obra não pode ser considerada como totalmente conservadora, por alguns motivos muito relevantes:[5]

1. Nega a autoria fundamental de Moisés, pág.10;

2. Adota a “teoria documentária” proposta pelo teólogo liberal alemão Martin Noth, chamada “Tetrateuco” (Gn, Êx, Lv, Nm) e “História Deuteromística” (Dt, Js, Jz, Sm, Rs), págs.11-14;

3. Defende uma “unidade temática-histórica”, pág.3-6, e uma “unidade estrutural”, págs.14-15, mas não “literária-textual”;

4. Adota o pressuposto evolucionista hegeliano, pág.10;

5. Enfatiza que a formação do Pentateuco “é uma antologia literária” e o produto de “comunidade de fiéis ao longo de muitos séculos”(p.14).

6. Aceita como premissa a teoria da “crítica canônica” de B.S. Childs (neo-ortodoxo). Afirma que o importante é o produto final (i.é., o cânon, pág.14), sem importar com o método utilizado, embora, não rejeita os pressupostos e métodos básicos da teoria documentária de Martin Noth (veja as notas 17-19, na pág. 754 da obra).



2.1.8. Características dos “supostos” documentos

Resumidamente, segue abaixo um resumo sobre os supostos documentos que compõe o Pentateuco, segundo os adeptos da teoria documentária.



Documento J (Jeová, Jeovista)

1.Data: 950 ou 850 a.C.

2.Local escrita: Judá

3.Autoria: é atribuído a um historiador desconhecido, pertencente ao reino do Sul

4.Conteúdo: começa com a criação e vai até o fim do reino de Davi (Gn 2 a Nm 22-24).

5.Natureza: uma coleção de literatura épica, demonstrando forte sentimento nacionalista. Contém dramatização vívida, apresentações antropomórficas de Deus, em que Deus é descrito em termos humanos. Prefere usar o nome Yahweh para Deus. Ressalta a continuidade do propósito de Deus desde a criação, passando pelos patriarcas, até o papel de Israel como seu povo. Essa continuidade leva ao estabelecimento da monarquia com Davi.



Documento E (Elohista)

1.Data: 850 ou 750 a.C.

2.Autoria: atribuída a um sacerdote desconhecido de Betel (Reino do Norte), ou a um profeta, sob a influência de Elias.

3.Local escrita: Efraim

4.Conteúdo: começa com Abraão e termina com Josué

5.Natureza: Usa-se a história na forma épica. Este documento possui uma variedade de detalhes, grande interesse no ritual e uma teologia mais abstrata, que evita antropomorfismo e usa visões e anjos como meios de revelação. É a narrativa da tradição de Israel (reino do Norte) em paralelo com documente J. Prefere Elohim como nome de Deus até a revelação de seu nome Yahweh a Moisés (Êx 3), depois disso passa a empregar ambos os nomes de Deus.



Documento D (Deuteronomista)

1.Data: 650 a.C.

2.Autoria: atribuída a um sacerdote desconhecido.

3.Local escrita: Jerusalém

4.Conteúdo: é o material núcleo do livro de Deuteronômio

5.Natureza: tem interesse teológico pelo Templo de Jerusalém, e forte oposição contra a idolatria. O estilo literário é prosaico, prolixo, paranético (repleto de exortações ou conselhos). Seria o tal livro descoberto no reinado do rei Josias no ano 621 a.C.



Documento P (do inglês Priestly[Sacerdotal])

1.Data: 525 ou 450 a.C.

2.Autoria: desconhecida

3.Conteúdo: composto de tradições mosaicas antigas depois do Exílio.



2.2. Uma avaliação crítica da Teoria Documentária.

Devemos considerar algumas implicações da Teoria Documentária em afirmar a formação final do Pentateuco num período pós-exílico (entre 500-400 a.C.), quando a religião de Israel já estava bem desenvolvida.

1. A Teoria Documentária não prova a não autoria de Moisés. Falando francamente, esta teoria nem sequer conseguiu provar a sua própria veracidade científica, para tirar de sobre si o estigma de “teoria” a que está vinculada durante todos esses séculos.

2. Mesmo entre os adeptos desta teoria não há concordância acerca da identificação e classificação dos textos e dos grupos documentais a que eles supostamente pertencem.

3. Aceitar a teoria JEDP anula a credibilidade do Pentateuco. Segundo a Teoria Documentária a história bíblica é forjada. O Dt foi inventado pelos profetas para reforçar a idéia da centralização. O uso do nome de Moisés no Pentateuco, era simplesmente para dar autoridade ao texto, mas ele nada tinha a ver com a composição histórica do mesmo. O documento P, composto para assegurar a aceitação do sistema sacerdotal por parte do povo, fora baseado em lendas e crendices folclóricas. Como observa Stanley A. Ellisen “rejeitar a autoria de Moisés é rejeitar o testemunho universal dos escritores bíblicos e solapar a credibilidade do Pentateuco e do resto da Bíblia. É da autoria de Moisés, e não apenas um ‘mosaico’ de diferentes”.[6]

4. Retira todo o caráter normativo do Pentateuco.[7] Não teria qualquer valor para o povo da época, já que nada acrescentaria ao judaísmo. Se o Pentateuco fosse apenas um produto de uma religião tardiamente desenvolvida, e não o princípio regulador, não faria sentido chamá-lo de “a Lei”. Se ele não foi o princípio regulador para os primeiros leitores, não teria valor algum para os crentes de outras épocas, uma vez que os conceitos humanos mudam e o que não foi normativo para um povo, pode não ser para outro.

5. Invalida o esforço de composição. O relato do Pentateuco[8] é rico em detalhes e informações. Possui informações das origens e desenvolvimento dos povos, em especial do povo de Israel. Os supostos autores teriam se dado a um imenso trabalho de imaginação para simplesmente manter uma ordem que já estava estabelecida.

6. Devemos considerar a ausência de evidências histórica, ou manuscritológicas, de que estes supostos documentos (JEDP) tenham circulado em algum período soltos uns dos outros.[9]

7. Considera o autor mal intencionado. A Teoria Documentária implica que um autor (ou autores), com um sentimento profundamente religioso e com o intuito de conduzir o povo diante de Deus, tenha se rebaixado a abandonar valores que quer ensinar e redigir uma mentira, colocando na boca de Deus, o que Ele não disse, inventando “estórias” e fazendo com que todos a considerassem como verdadeiras!

8. Impossibilidade do sobrenatural no AT. Conseqüentemente a intervenção divina é negada: revelação, inspiração, encarnação, milagres, etc.

9. Negação da revelação especial. A Bíblia torna-se meramente uma referência literária semítica. Um livro antigo como outro qualquer, deixando de ser a auto-revelação proposicional de Deus.



2.3. Argumentos em favor da Autoria Mosaica do Pentateuco

Não há no Pentateuco uma declaração objetiva de que Moisés tenha escrito o Pentateuco. Todavia, há um testemunho suficiente, que apóia a sua autoria.

A ausência do nome do autor harmoniza-se com a prática do AT em particular, e com as obras literárias antigas em geral. No antigo Oriente Médio, o “autor” era basicamente um preservador do passado, limitando-se ao uso de material e metodologia tradicionais, conforme já foi observado.



2.3.1. Evidências Internas

1. Êx 17:14 indica que Moisés estava em condições de escrever.

2. Êx 24:4-8 refere ao “Livro da Aliança” (Êx 21:2-23,33).

3. Êx 34:27 pela segunda vez a ordem de escrever. Refere-se a Êx 34:10-26, o 2º Decálogo.

4. Nm 33:1-2 Moisés anotou a lista das paradas desde o Egito até Moabe (caminhada pelo deserto).

5. Dt 31:9,24 referência aos 4 livros anteriores do Pentateuco.

6. Dt 31:22 refere-se a Dt 32.

7. Narra detalhes de uma testemunha ocular. O número de fontes e palmeiras (Êx 15:27), a aparência e paladar do maná (Nm 11:7-8).

8. Em Gn e Êx, o autor exprime um detalhado conhecimento do Egito, e do percurso do êxodo.

9. Conhecimento de palavras e nomes egípcios. O autor possuí uma noção estrangeira da Palestina. Os termos usados para as estações, tempo, fauna, flora são egípcios, não palestinos. O autor estava familiarizado com a geografia egípcia e sinaítica. Menciona quase nada sobre a geografia palestina, o que evidencia seu pouco conhecimento da região.



2.3.2. Evidências Externas

1. Livro de Josué repleto de referências a Moisés como autor do Pentateuco Js 1:7-8; 8:31; 22:9; 23:6; etc.

2. Jz 3:4 declara “...por intermédio de Moisés.”

3. Expressões freqüentes nos livros históricos: “lei de Moisés”, “livro da lei de Moisés”, “livro de Moisés”, etc. 1 Rs 2:3; 2 Rs 14:6; 21:8; Ed 6:18; Ne 13:1; etc.



2.3.3. Evidências do NT

1. Cristo menciona passagens do Pentateuco como sendo de Moisés. Mt 19:8; Mc 10:4-5.

2. O texto sobre a circuncisão (Gn 17:12) mencionado no NT (Jo 7:23) como fazendo parte da Lei de Moisés.

3. Restante do NT em harmonia com Cristo. At 3:22-23; 13:38-39; 15:5,21; 26:22; 28:23; Rm 10:5,19; 1 Co 9:9; 2 Co 3:15; Ap 15:3.



2.3.4. Moisés Era Qualificado Para Escrever o Pentateuco

Alguns críticos questionam não somente a autoria de Moisés, mas inclusive até mesmo a sua historicidade. Acham inconcebível como tamanhos desastres puderam atingir um povo tão desenvolvido e organizado, como eram os egípcios, e ainda assim não existir nenhum registro desses fatos? Respondemos mencionando a contribuição do arqueólogo Alan Millard que declara

os faraós, e isso não é surpresa, não apresentam descrições das derrotas sofridas diante dos seus vassalos ou sucessores. Se os monumentos reais não podem ajudar, os distúrbios vividos pelo Egito com as pragas e a perda da mão-de-obra poderiam ter gerado mudanças administrativas. Como qualquer estado centralizado, o governo do Egito consumia grandes quantidades de papel (papiro), e boa parte da documentação era arquivada para consulta. Mas isso também não ajuda, pois, como já vimos, praticamente todos os documentos pereceram, e a probabilidade de recuperar algum que mencione Moisés ou as atividades dos israelitas no Egito é risível.[10]

Moisés é reconhecido como o homem erudito na antigüidade bíblica. Nos dias de Moisés o Egito era a maior civilização do mundo, tanto em domínio, construções e conhecimento. Moisés teve a oportunidade de ter sido educado na corte real egípcia, recebendo a instrução de disciplinas acadêmicas que no Egito já eram tão desenvolvidas. Incluindo a arte da escrita, que há muito tempo era usada, de comum uso dos egípcios, inclusive entre os próprios escravos.

Como historiador, soube coletar as informações da rica tradição oral de seu povo. Mas além da tradição oral, Moisés dispôs, enquanto esteve no palácio real egípcio, do seu acervo literário.

Era possuidor de um vasto e detalhado conhecimento geográfico. O clima, vegetação, a topografia, o deserto tanto do Egito como do Sinai, e os povos circunvizinhos lhe eram familiares.

O modo como o autor do Pentateuco descreve os eventos e lugares, indica que ele não era palestino. Alguns fatos contribuem para esta conclusão 1) conhecia lugares pelos nomes egípcios, 2)usa uma porcentagem maior de palavras egípcias do qualquer outra parte do AT, 3) as estações e tempo que se mencionam nas narrativas são geralmente egípcias e não palestinas, 4)a flora e a fauna descritas são egípcias, 5)os usos e costumes relatados que o autor conhecia e eram comuns em seus dias.[11]

Moisés como fundador da comunidade de Israel, também exerceu o papel de legislador, educador, juiz, mediador, profeta, libertador, sacerdote, pastor, historiador, entre outros. Possuía vários motivos, segundo as funções que exerceu, para prover ao seu povo alicerces morais concretos e religiosos, e era preciso registrar e distribuir a Lei entre o povo, de modo que ela fosse acessível a todos.

Como escritor teve tempo mais que suficiente. O Êxodo durou quarenta árduos e longos anos de peregrinação pelo deserto do Sinai. Apesar de sua ocupação ativista, este seria um tempo mais do suficiente para que pudesse escrever todo o Pentateuco, e ainda se necessário alfabetizar todo o povo.[12]

Ele mesmo reivindicou escrever sob orientação de Deus (Êx 17:14; 34:27; Dt 31:9, 24). Nenhum outro autor da antiguidade foi assim identificado.



2.3.5. O Que se Entende Por Autoria Mosaica?[13]

1. Não significa que Moisés tenha pessoalmente escrito originalmente cada palavra do Pentateuco. Certamente ele lançou mão da “tradição oral”;[14]

2. É possível que ele tenha empregado porções de documentos previamente existentes;

3. Talvez, tenha usado escribas ou amanuenses para escrever;

4. Moisés foi o autor fundamental ou real do Pentateuco;

5. Sob a orientação divina, talvez, tenha havido pequenas adições secundárias posteriores, ou mesmo revisões (Dt 34);

6. Substancial e essencialmente o Pentateuco é obra de Moisés. O Dr Wilson comenta “que o Pentateuco, conforme se encontra, é histórico e data do tempo de Moisés; e que Moisés foi seu autor real, ainda que talvez tenha sido revisado e editado por redatores posteriores, adições essas tão inspiradas e tão verazes como o restante, não existe dúvida.”[15]





3.Unidade

3.1. Unidade Literária/Textual

Pequenas adições e mudanças no Pentateuco podem ser admitidas sem que se negue a unidade literária, e autoria mosaica da obra.

Não há nenhuma evidência história ou manuscritológica que vários redatores tenham “costurado” os livros do Pentateuco. Não existe nenhuma evidência que em algum período da história, o Pentateuco tenha circulado como “pedaços” (fontes JEDP), e que algum redator, ou redatores, tenha compilado e dado sua formação final, como propõe a teoria documentária. Os rabinos judeus desconhecem tal coisa.



3.2. Unidade Histórica

O Pentateuco possui uma linha histórica que se desenvolve. A ligação cronológica entre os cinco livros, transmite-nos a idéia de que, é somente um livro de cinco capítulos. Podemos resumir a história de Israel registrada no Pentateuco da seguinte forma:

1. Deus é o criador de toda a raça humana, e dela formou para si um povo.

2. Deus escolheu Abraão e seus descendentes, e lhes prometeu dar a terra de Canaã.

3. Israel foi para o Egito, e caiu na escravidão, da qual o Senhor os livrou.

4. Deus conduziu Israel a Canaã conforme prometeu.



3.3. Unidade Temática

1. Em Gn vemos a origem do universo e a aliança com Israel.

2. Em Êx vemos a escravidão e libertação de Israel.

3. Em Lv vemos a santificação de Israel.

4. Em Nm vemos a recontagem do povo de Israel.

5. Em Dt vemos a renovação da aliança com a nova geração de Israel





4. Divisões

O Pentateuco é uma unidade em cinco livros.

O pensamento crítico mais antigo defendia que Dt não termina o Pentateuco, mas culmina com o livro de Josué. Esta tese formulada por Julius Wellhausen e Gerhard Von Rad, é conhecida como “teoria do Hexateuco”(Gn+Êx+Lv+Nm+Dt+Js).



O pensamento crítico mais recente defende que Dt é uma introdução teológica à subseqüente “História Deuteronomística”. Segundo a “História Deuteronomística” o livro de Deuteronômio faz parte de seqüência de livros compilados por redatores. Formulada por Martin Noth:

Tetrateuco “História Deuteronomística”

Gn Êx Lv Nm Dt Js Jz Sm Rs



As teorias críticas de G. Von Rad e Martin Noth negam tanto a autoria, quanto a unidade do Pentateuco. Seguimos a divisão tradicional em cinco livros. Não há evidência de que o Pentateuco tenha sido “mutilado” ou “acrescentado” como querem sustentar os defensores de um “Tetrateuco” ou “Hexateuco”. Algumas evidências da unidade estrutural dos cinco livros, ou Pentateuco:

1. O Pentateuco Samaritano

2. A LXX

3. Filo, filosófo judeu de Alexandria (Egito)

4. Flávio Josefo, historiador judeu

5. Designações judaicas posteriores se referiam ao Pentateuco como “os cinco quintos da Lei” (Talmud de Jerusalém, Sanhedrin 10:1 e Koheleth rabba Ec 12:11).





5. Esboço do Pentateuco[16]

O Pentateuco é formado por cinco livros que, juntos, abrangem um período de tempo que se estende desde a Criação até a chegada do povo de Israel aos limites de Canaã.



1. História primitiva com um contexto histórico amplo....Gn 1-11

2. História dos Patriarcas...............................Gn 12-50

3. Opressão de Israel e preparativos para o Êxodo........Êx 1-9

4. O Êxodo e a chegada ao Sinai..........................Êx 10-19

5. O Decálogo e o Pacto no Sinai.........................Êx 20-24

6. Tabernáculo e o sacerdócio aarônico...................Êx 25-31

7. A violação idolátrica do Pacto........................Êx 32-34

8. Acréscimo de leis acerca do Tabernáculo...............Êx 35-40

9. A lei das oferendas...................................Lv 1-7

10. Consagração dos sacerdotes e oferendas iniciais......Lv 8-10

11. As leis da purificação...............................Lv 11-15

12. O Dia da Expiação....................................Lv 16

13. Leis acerca da moralidade e pureza...................Lv 17-26

14. Votos e dízimos......................................Lv 27

15. Censos e leis........................................Nm 1-9

16. A Viagem desde o Sinai até Cades-Barnéia.............Nm 10-20

17. Peregrinações até Moabe..............................Nm 21-36

18. Primeiro discurso....................................Dt 1-4

19. Segundo discurso com uma introdução exortativa.......Dt 5-11

20. Coleção de estatutos e direitos......................Dt 12-26

21. Maldições e Bênçãos..................................Dt 27-30

22. Ascensão de Josué e a morte de Moisés................Dt 31-34





6. Importância

6.1.Aspecto social

O Pentateuco funcionou como uma constituição da teocracia de Israel. Antes de refletir os costumes nacionais, o Pentateuco tencionou ditá-los. G.L. Archer escreve que “estes seriam os alicerces morais e religiosos nos quais a sua nação haveria de cumprir o seu destino”.[17] Quando Deus deu a Moisés a Lei, Ele forneceu o princípio regulador que nortearia toda uma nação.



6.2. Aspecto Científico

A origem do universo com um ato criativo de Deus. O Movimento Criacionista tem desenvolvido argumentos consistentes numa tentativa de explicar cientificamente a origem do universo à partir de pressupostos bíblicos encontrados, especialmente, no livro de Gênesis . Apresenta Deus como a “primeira causa eficiente”. Como também transformações que podem ser explicadas pelo evento de um dilúvio universal.



6.3. Aspecto Teológico

Raízes do Cristianismo e judaísmo estão profundamente firmadas no Pentateuco. Tudo se firma, ou tudo caí com a autoridade do Pentateuco.

No Pentateuco encontramos informações e pressupostos para o desenvolvimento da teologia. A origem do universo, sobre a vida humana, pecado, “proto-evangelho”, cerimonial, culto, nomes de Deus, aliança, início de Israel, etc.



6.4. Aspectos Históricos

Esses livros são os únicos a traçar uma linha contínua a partir de Adão. Todavia, não sua intenção apresentar uma história completa de todas as gerações e raças, mas sim um relato altamente especializado da implantação do reino teocrático no mundo. Não é mera história. Mas a história da redenção do ser humano pecador. História especial com um motivo teológico por trás. História apontando para Cristo.



6.5. Aspectos Étnicos

Os livros do Pentateuco descrevem o começo e a expansão das divisões raciais do mundo.



6.6. Aspectos Proféticos

O Pentateuco é o fundamento para os temas proféticos mais importantes da Bíblia. As profecias preenchem a interpelação histórica através das demais revelações.





7. Propósito

Esta obra não é um mero ensaio literário, mas o registro histórico de uma grande família, a descendência de Abraão. Toda a história gira em torno deste povo. A sua identidade étnica se delineia nestes cinco livros. O Pentateuco procura situar o povo de Israel dentro do mundo, especialmente em Gn, apresentando suas origens e a origem dos povos que posteriormente viriam a cruzar o seu caminho. Tal conhecimento da história nacional seria tão importante para o povo no deserto, quanto para o povo já estabelecido em Canaã.

O Pentateuco foi escrito para apresentar o Deus que libertou o povo de Israel. De modo que o povo pudesse adorar e obedecer a Deus, sabendo que Ele é verdadeiramente o único Deus e que é poderoso, santo e glorioso.

[1] Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento (São Paulo, Ed. Vida Nova, 1964), p. 47

[2] D. Roos, Isagoge do Antigo Testamento: Pentateuco (São Paulo, Escola Superior de Teologia da IELB, 1993), p. 4

[3] Comentário na sobrecapa do livro.

[4] Este seminário, embora conservador, tem adotado uma postura mais pluralista em sua teologia e métodos, perdendo sua identidade original.

[5] Os pressupostos teológicos e metodológicos, sobre a obra, podem ser encontrados todos no cap. 1, págs. 3-15

[6] Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento (São Paulo, Ed. Vida, 1996), p. 13

[7] O.T. Allis, The Five Books of Moses, p. 10

[8] Veja o “Esboço do Pentateuco”.

[9] Robert D. Wilson, A Scientific Investigation of the Old Testament, p. 50

[10] Alan Millard, Descobertas dos Tempos Bíblicos (São Paulo, Ed. Vida, 1999), p. 80

[11] G.L. Archer,Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento?, pp. 499-507

[12] Martinho Lutero apesar de possuir uma vida tão atribulada pode escrever (e em alguns casos reescrever) uma verdadeira biblioteca. A obra completa da edição alemã de Weimar possuí um acervo de 100 volumes.

[13] Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 52

[14] O.T. Allis, The Five Books of Moses (New Jersey, Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1964), pp. 12-14

[15] Robert D. Wilson, A Scientific Investigation of Old Testament, p.11

[16] R.K. Harrison, Introdución ao Antiguo Testamento (T.E.L.L., 1988), vol. 2, p.4

[17] G.L. Archer, Merece Confiança o Antigo Testamento? (São Paulo, Ed. Vida Nova, 1991), p.508



Rev. Ewerton Barcelos Tokashiki

tokashiki@ronnet.com.br

Pastor da Igreja Presbiteriana de Cerejeiras – Rondônia

Professor de Teologia Sistemática no STPBC – Extensão em Ji-Paraná

Comentários

Francisco Amado disse…
PqPariu!

Muito grande seu artigo.

Já esta postado.

Divida os artigos grandes e partes.
Lucas Corrêa disse…
Nenhum biblicista sério hoje em dia acredita na hipótese de que Moisés tenha escrito o pentateuco, se é que Moisés existiu.

Muito embora citaste de maneira eloquente alguns trechos na bíblia que se referem à Moisés como autor caíste em uma falácia. É evidente que quem escreveu a bíblia iria se referir à Moisés como autor do livro, pois isso era tradição entre os hebreus.

Em suma a hipotese mais provável continua sendo a Documentária ou Hipotese das Quatro Fontes.

Aliás já viu a hipotese da Fonte Q a origem dos evangelhos? É bom ver se ainda não o viu.
Olá Lucas,
Obrigado pelo seu comentário. Voce não considera sério o teólogo e apologista Josh MacDowell? Ele desmonta a hipótese documentária em seu segundo volume de "Evidencias que exigem um veredito"...talvez, devesse le-lo e rever suas convicções a respeito. Sobre a Hipótese da Fonte Q, conheço sim. E digo que a Existencia ou não de uma fonte assim na composição dos Evangelhos de Mateus e Lucas não inviabilizam a autoria de Mateus e Lucas, fazendo-os mito, como parece fazer a Hipótese Documentária. Ademais, ela continua mesmo sendo uma Hipótese já que os estudiosos modernos não aceitam que um documento tão importante tenha sido omitida em todos os catálogos do Cristianismo Primitivo, e não recebeu menção dos Pais da Igreja...então a falácia citada por voce é de fato a existencia de Quelle.
Lucas Correa disse…
Por favor não invente, querer defender a autoria mosaica do Pentateuco é brincadeira para os biblicistas sérios. Aliás a própria história de Israel não deve ser analisada do ponto de vista bíblico.

Até meados da década de 70 do século XX, havia um razoável consenso na História de Israel. Entre outras coisas, o consenso dizia que a Bíblia Hebraica era guia confiável para a reconstrução da história do antigo Israel. Dos Patriarcas a Esdras, tudo era histórico. Se algum dado arqueológico não combinava com o texto bíblico, arranjava-se uma interpretação diferente que o acomodasse ao testemunho dos textos, como no caso da destruição das (inexistentes) muralhas de Jericó pelo grupo de Josué.

Exemplos?

Os patriarcas eram personagens históricos, o que podia ser comprovado pelos textos mesopotâmicos de Nuzi, do século XIV a.C., em seus muitos paralelos, de estruturas sócio-econômicas a tradições legais, com Gn 12-35. E a migração dos amoritas, que ocuparam a Mesopotâmia e a Palestina no final do terceiro milênio a.C., criava as condições ideais para a entrada dos patriarcas na região da Palestina e explicava seus nomes, sua língua e sua religião.

A escravidão dos hebreus no Egito e o êxodo não podiam ser questionados, pois textos egípcios testemunham que Ramsés II utilizou hapirus (= hebreus) na construção de fortalezas no delta do Nilo em regime de trabalho forçado. A Estela de Merneptah, faraó sucessor de Ramsés II, comprova a existência de israelitas na terra de Canaã na segunda metade do século XIII a.C., o que nos permitia fixar a data do êxodo aí por volta de 1250 a.C.

É preciso lembrar, porém, que a historiografia alemã, desde W. de Wette, em 1806-7, passando por Julius Wellhausen, em 1894, até Martin Noth, em 1950, não participava integralmente deste consenso, negando, por exemplo, a historicidade dos patriarcas.

Mas, a ‘História de Israel’ está mudando. O consenso foi rompido. A paráfrase racionalista do texto bíblico que constituía a base dos manuais de ‘História de Israel’ não é mais aceita. A seqüência patriarcas, José do Egito, escravidão, êxodo, conquista da terra, confederação tribal, império davídico-salomônico, divisão entre norte e sul, exílio e volta para a terra está despedaçada.

O uso dos textos bíblicos como fonte para a ‘História de Israel’ é questionado por muitos. A arqueologia ampliou suas perspectivas e falar de ‘arqueologia bíblica’ hoje é proibido: existe uma ‘arqueologia da Palestina’, ou uma ‘arqueologia da Síria/Palestina’ ou mesmo uma ‘arqueologia do Levante’.

O uso de métodos literários sofisticados para explicar os textos bíblicos, afasta-nos cada vez mais do gênero histórico, e as ‘estórias bíblicas’ são abordadas com outros olhares. A ‘tradição’ herdada dos antepassados e transmitida oralmente até à época da escrita dos textos freqüentemente não consegue provar sua existência.

A construção de uma ‘História de Israel’ feita somente a partir da arqueologia e dos testemunhos escritos extrabíblicos é uma proposta cada vez mais tentadora. Uma ‘História de Israel’, que dispense o pressuposto teológico de Israel como ‘povo escolhido’ ou ‘povo de Deus’ que sempre a sustentou. Uma ‘História de Israel e dos Povos Vizinhos’, melhor, uma ‘História da Síria/Palestina’ ou uma ‘História do Levante’ parece ser o programa para os próximos anos.

E há pesquisadores de renome na área, como Rolf Rendtorff, exegeta alemão, professor emérito da Universidade de Heidelberg, que já em 1993 afirmava em artigo na revista Biblical Interpretation 1, p. 34-53, que os problemas da interpretação do Pentateuco estão intimamente ligados aos problemas mais amplos da reconstrução da história de Israel e da história de sua religião.

Este artigo quer traçar um panorama destas mudanças pelas quais vem passando a ‘História de Israel’ nos últimos trinta e tantos anos, apontar as dificuldades que a crise vem criando e propor algumas pistas de leitura para os interessados no assunto.

Enfim, acho que disse tudo.

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